"...Ela ganhou o ultimo degrau e rua, sumindo ao dobrar a esquina.
Ele ganhou o ultimo degrau e percebeu que os deuses riam do sutil desencontro."
Valete...
A ironia dos deuses se faz presente. Breves momentos de encontro, que delineiam uma história com intervalos de grandes desencontros. Em meio ao turbilhão da vida, entre becos, esquinas, vielas e vias, o valete de paus foi deixado no bolso do casaco. Oculto de olhos curiosos e de pretensões. O cigano fazia sua pausa, tomado pelo mundano. As visões de tachos em brasa, exércitos em guarda e fios repletos de sabiás, ofuscadas por assuntos mais urgentes. Os odores da mirra e do alecrim do campo eram apenas uma vaga lembrança no subconsciente. A espada que jazia no anteparo, já não estava, assim como as sensações vibrantes e a entrega perfeita. Era o silêncio da alma tentando dominar o caos. A prisão perfeita.
Dama...
A busca incessante, com risos em seu encalço. A espada novamente em punho, ignorando as feridas abertas, havia aprendido com o tempo a superar pequenos incômodos. Sentia-se o mínimo no volume mínimo, apesar de saber que era o máximo no volume mínimo. O medo anacrônico não tinha mais importância, fora suplantado pela necessidade de vencer seus fantasmas. Fora banhada, acalentada e protegida, mas a batalha nunca descansa, seus exércitos a postos aguardavam novo comando. A dama lutava com gigantes invisíveis, tentando alcançar o horizonte. Abandonava a ordem se entregando novamente ao caos, montando sítio diante dos portões que a acolheram e agora faziam prisioneiro seu valete. Era o caos prestes a intervir e reconquistar.
Silêncio...
Ela montou seu cavalo, e deu sinal para aguardar...
Ele olhou pela janela...